Às Sextas
Da mesinha do terraço do restaurante, ele via o tempo passar. Era um antigo cliente e desfrutava do privilégio de ficar tardes inteiras ali, sentado, sem ser incomodado pelos funcionários. Geralmente às sextas, após o expediente da manhã, almoçava naquele mesmo restaurante e largava-se na cadeira a contemplar os demais clientes e as pessoas que caminhavam pela calçada.
Morava bem próximo ao restaurante, mas, às sextas, recusava-se a cozinhar para si mesmo; recompensava-se, depois de uma semana de trabalho aborrecido, com uma refeição caprichada e uma tarde de ócio. Os garçons e mesmo o dono do restaurante não conseguiam atinar que proveito haveria em passar uma tarde inteira a espiar o movimento. Mas, como o cliente era muito simpático - e consumia umas tantas doses de bebida após o almoço - nunca chegaram a perguntar suas razões.
Na verdade, o que o homem queria mesmo era perder-se em seus pensamentos sem ser interrompido. Enquanto o mundo o via como uma estranha figura estática olhando para o infinito, seu cérebro estava na mais frenética atividade. Aquele era o momento em que colocava em ordem o caos de suas ideias, repensava algumas das decisões tomadas no curso da semana, resolvia pendências pessoais e profissionais. Tudo em silêncio. Na sexta-feira. Após um almoço naquele terraço.
Quando o homem, enfim, decidia partir, lá pelas cinco horas da tarde, além de uma ligeira tontura causada pelo álcool, sentia a leveza de que a semana, de fato, terminara. Estava desembaraçado das tarefas, decidido quanto aos planos e pronto para o fim de semana.
Nem os garçons nem o dono do restaurante sabiam, mas o excêntrico cliente, todas as sextas, fazia um tratamento completo de corpo e alma pelo preço de um almoço e uns poucos drinks.
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